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04 de Janeiro, 2019 Artigos

Como a energia solar deve tornar-se um diferencial competitivo nas indústrias

Por Arthur Santini


A história das organizações tem nos mostrado, através das décadas, o quão importante é a gestão de custos para que determinada empresa possa, além de sobreviver, mostrar-se competitiva e estabelecer diferenciais em relação aos seus concorrentes. Independente se você é adepto a teorias mais clássicas de administração como Fayol ou Taylor, ou se está familiarizado e aplica o que há de mais novo na gestão como teorias de oceano azul e vermelho, organizações exponenciais e design thinking, um ponto em comum de qualquer uma delas é: Assim como as nossas unhas precisam ser cortadas constantemente, também são os custos e despesas de nossas empresas: de onde surgem pode parecer um mistério, mas, se não os apararmos e cuidarmos constantemente, pode nos trazer sérios problemas.


Em linha com tudo isto, é inegável que para uma empresa realizar uma adequada gestão de custos, a energia elétrica deve ser pauta constante. Em pesquisa realizada em março de 2016 pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), e relatório publicado pelo Portal da Indústria, a energia elétrica é um insumo importante para a indústria: quase 80% das empresas industriais a utilizam como principal fonte de energia. Ainda segundo este mesmo estudo, 93% das empresas que utilizam principalmente energia elétrica em processo produtivo, perceberam elevação do custo de energia, sendo que destas, 35% afirmaram que o impacto do aumento da tarifa de energia no custo total foi alto. Apesar da esmagadora maioria perceber estes aumentos, apenas 52%, pouco mais da metade das empresas tomaram alguma medida para lidar com o custo da energia.


Aprofundando um pouco mais nos dados, é possível identificar que, dos 52% das empresas que realizaram alguma ação para lidar com o problema, apenas 10% investiram em autogeração, e 6% substituíram a fonte de energia. A maioria esmagadora (71%) implementaram apenas ações ou programas de eficiência energética em maior ou menor grau. Isto prova o potencial de mercado ainda a ser desenvolvido com a energia solar, promovendo tanto a autogeração quanto a substituição de fonte de energia, em especial na geração distribuída.


Devido às mais diferentes formas de se produzir um bem, as complexas cadeias de produção atuais, bem como os mais diversos bens a serem produzidos, cada indústria tem o seu grau de dependência e representatividade da energia elétrica nos custos, entretanto corroboram com os dados acima e com a importância da energia elétrica no custo das empresas, em especial as indústrias, os dados publicados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em janeiro de 2017, consolidando os números de 2016: dos 460.380 GWh consumidos no país, a Indústria sozinha representou 36% do total, a maior parcela (164.254 GWh), seguida pelas residências, com 29% (132.893 GWh) e comercial com 19% (88.185 GWh). As empresas (indústrias e comércio), representam quase a metade do consumo total, com 48% de participação.



Gráfico 1 – Consumo por classe em 2016 1


Além da importância da energia elétrica nos custos das empresas, em especial as indústrias, porém sem esquecer daquelas de atividade mercantil, é necessário analisar como este custo varia ao longo do tempo, bem como avaliar como a energia solar pode ajudar os empresários a se proteger.


Além da inação, comum a qualquer mercado, mas especialmente sensível no Brasil, é necessário pontuar que a matriz energética no país é sabidamente composta, em sua grande maioria, por fontes hídricas. Para que possamos investigar de forma adequada a evolução das tarifas, é necessário entender a matriz energética no Brasil: de acordo com o relatório da Reunião da Câmara da Indústria de Energia da FIEMG, publicado pela Aneel em 2016, 65% da capacidade instalada no Brasil é proveniente destas fontes. Quando há qualquer tipo de restrição na matéria prima desta energia, vista ao longo do tempo em diversas crises hídricas, surge a necessidade de colocar em operação outras fontes mais caras, como as termoelétricas, que de acordo com o mesmo relatório representa 27% da capacidade de geração do país. Quando estas fontes são utilizadas, adiciona-se um custo de operação, que se transforma em aumento de tarifa aos consumidores.



Gráfico 2 – Soma da tarifa média de forn. 1


Analisamos os últimos 13 anos, e segundo dados da própria ANEEL , a soma da tarifa média de fornecimento aumentou, de 2003 a 2006, em 2,3 vezes, ou seja, 230%. Interessante analisar que o índice IPC, calculado pela USP/FIPE, um dos índices mais utilizados e confiáveis para se medir a inflação no país, acumulou, no mesmo período, 80,01% de aumento. Além de tarifa de energia elétrica apresentar uma diferença de 149 pontos percentuais à mais do que a inflação acumulada no período analisado, vale observar que, apesar da clara linha de tendência de aumento ao longo dos anos, observado pela linha vermelha do Gráfico 2, no período houveram períodos de estabilidade (como pode ser observado entre 2006 e 2007, com uma variação de 0,08%), períodos de queda (por exemplo entre 2012 e 2013, que registrou uma queda aproximada de 19%), e períodos de alta repentina, observado, entre outros, em 2014 e 2015, registrando cerca de 42% de aumentos. Esta falta de sincronismo e dificuldade de previsão de tarifas ao longo dos anos é um fator crucial de preocupação nas projeções dos empresários. Sabe-se que, ao longo dos anos irá aumentar, mas não se sabe quanto ou quando.


Igualmente importante na evolução das tarifas, além da dependência de chuvas, da certeza de aumentos e de falta de sincronismo nestes aumentos, está a grande parcela de impostos dentro destas tarifas. As atuais necessidades de readequações fiscais no país por parte do governo trazem mais um fator: não é possível ter qualquer tipo de previsão sobre o papel que estes impostos terão nas tarifas, bem como a atuação do governo no controle tarifário. Não seria inédito um controle ilusório de tarifas ou um cenário fiscal sem previsibilidade.


O que se pode esperar do mercado, nos próximos anos (e que já pode ser observado de maneira tímida em 2017), é uma recuperação da economia em geral, incluso nestes as indústrias, que acumulam anos de queda. Esta melhora com certeza trará a necessidade de mais energia elétrica, e, consequentemente pela lei da oferta e da procura, possíveis aumentos de preços.


Mas como a energia solar pode, neste cenário ajudar as indústrias a se proteger deste tão hostil cenário? Vale utilizar aqui a análise estratégica Porter. Em 1979 Michael Porter publicou em forma de artigo na Harvard Business Review a concepção de cinco forças competitivas que moldam as estratégias: rivalidade entre concorrentes, poder de negociação dos clientes, poder de negociação dos fornecedores, ameaça de novos concorrentes e produtos substitutos. De maneira genérica, a teoria de Porter afirma que determinada companhia deve analisar, para cada uma destas forças, se ela tem ou não vantagem competitiva.


Chamamos a atenção para a força onde a energia solar pode realmente trabalhar a favor do empresário: poder de negociação dos fornecedores: Em geral, o poder de negociação com fornecedores de energia elétrica é praticamente nulo para a maioria das empresas. Não é possível negociar a tarifa, trocar de concessionária ou barganhar condições em grande parte das empresas. Para aquelas que optam pela compra no mercado livre, ainda assim não existe exatamente uma negociação como ocorreria em compra de insumos, serviços, entre outros por exemplo. O poder de negociação está quase que totalmente fora das mãos das empresas que consomem a energia elétrica.



A energia solar no Brasil encontra-se em um momento de crescimento notável. As resoluções normativas 482, e mais recentemente a 687 de 2015 trazem ao empresário maior confiança em investir neste tipo de solução. Não iremos nem entrar aqui no mérito de todo o bem que este empresário também estará fazendo ao planeta, e como, ao utilizar esta fonte ele pode obter ganhos agregando valor aos seus produtos. Ao utilizar a energia solar, sendo a empresa responsável pela sua própria geração, é possível inverter o jogo, ficando praticamente imune a aumentos de tarifas. Recorrendo novamente a Porter, quando uma determinada companhia investe em energia solar, ficando imune a aumentos, e seus concorrentes não o fazem, ao ter um novo (e certo) aumento de energia elétrica, este que investiu têm uma importante vantagem estratégica competitiva frente ao mercado.


Obviamente existem barreiras a serem vencidas. Em um mercado crescente, porém novo no Brasil, em especial para clientes de alta tensão, discussões sobre horário de pico, demanda contratada e limites para geração, valor da tarifa, fontes de financiamento, entre outros são interrogações que devemos trabalhar para dirimir. Ainda assim, ao utilizar sistemas on-grid, não é necessário investir em infraestrutura de baterias, o que diminui o capital necessário para implantação, além da possibilidade de algumas tecnologias permitirem a implantação gradual das usinas. Para fins de proteção de aumento de custos, uma empresa que hoje está 100% descoberta em relação aos custos com energia elétrica, pode, por exemplo, implementar 20% ou 50% de sua necessidade, e, com o valor economizado continuar o processo de troca de fonte, até alcançar o índice desejado.


Em geral o payback médio de sistema de energia solar para as empresas são de 5 a 7 anos, podendo se estender para 10 a 12 anos, dependendo o valor de kWh pago por determinada companhia. Ainda assim, mostra-se um negócio altamente viável, pois o sistema é desenhado para durar acima dos 25 anos. Devido à cultura do imediatismo presente na cultura do nosso país, um investimento que se paga de um quinto a metade do tempo do investimento pode parecer muito, mas é nosso papel mostrar o caminho, e continuar no desenvolvimento do mercado para que a energia solar se torne cada vez mais representativa no território nacional, ajudando a matriz energética, a eficiência na distribuição e os empresários a terem maior controle sobre os custos de tão importante fator que é a energia elétrica.



Arthur Santini é diretor de controladoria da Ecori Energia Solar, professor certificado da FGV – Fundação Getúlio Vargas e outras instituições, possui passagens em multinacionais de auditoria como KPMG, também é autor do livro "RFID - Conceitos, Aplicabilidades e Impactos", publicado editora Ciência Moderna/RJ.

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